Queima Válvula

TIM-TIMBRE
um brinde aos ouvidos
por Ygor Morato


Volume, gain, treeble, bass, presence, middle, master etc. Antigamente, para mim, isso tudo não passava de alguns botões. Grave, agudo mais ou menos ajustados. Nada mais. Mas isso faz tempo. O ouvido, assim como tudo no nosso corpo, amadurece. Pois é, amadurece e fica chato, também assim como nós ficamos, conforme a velhice vai chegando. Mas a chatice auditiva é benéfica. É produtiva. Um ouvido chato produz pérolas. Um ouvido insuportavelmente chato produz Bohemia Rhapsody, Floods, Tender Surrender ou Eruption

Perdi a conta de quantas vezes me apaixonei por um timbre. Muitas vezes essa paixão dura pouco. Mas sempre é intensa. Desde meu primeiro Distortion vsem marca ligado em um Watsom original passando por várias 505s, Boss, Digitechs etc. As 505, diga-se de passagem, são um capítulo a parte. Foram uma revolução na minha vida. Uma simulação de timbres famosos custava muito caro e era a coisa mais distante do mundo até a chegada delas. Longe de serem bons pedais, as 505 não davam pra ninguém um som de um Marshall nem de um Mesa Boogie, mas elas simulavam isso. Mesmo que de forma bem discreta. Acho que nessa época comecei a me ligar em timbre. A partir daí, meu dinheiro tem destino certo. Investir em timbre. Por mais abstrato que isso seja, virou meta de vida.


A busca do timbre perfeito traz tanta angústia quanto o estudo da música em si. Parece que não vai chegar nunca. O que você tem na cabeça parece muito simples, muito evidente. E o diabo não sai no falante. Tem gente que não se preocupa: Abençoados. Estão livres dessa tortura metal eterna. Existem outrosque são simplesmente gênios.
 Li uma vez que o Stevie Ray vaughan regulava seu timbre no show assim: plugava a Strato no seu Super-Reverb passando por um Tube Screamer e um Wah-wah (pouca coisa a mais que isso), torava o volume, sentava a mão no mizão (solto), regulava o ganho e pronto. Sem choro. Um dos timbres mais bonitos da história. Mas não ache que você é o Stevie Ray Vaughan, porque você não é. Infelizmente. Essa simplicidade pra achar o timbre tem outros facilitadores. O timbre final é resultado de equipamento: guitarra, pedais, amplificador + sua mão. Isso na proporção de 50/50. Isso mesmo. Metade do seu timbre é você. Dê uma Giannini pro Paul Gilbert ou o Di Giorgio velho pro Eric Johnson. A limitação do instrumento parece não existir pra um cara desse.

Se eu pudesse te dar um conselho e você quisesse ouvi-lo, eu te diria: se apaixone por timbres. Durma pensando neles. Acorde mais cedo para ouvi-lo. Descubra que estão horríveis. Perca a referência. Pare de tocar meia hora. Volte a tocar. Não se canse disso. Timbre é alma. Exige paixão. Mas se você não é músico ou não se interessa por timbres, ignore o tudo o que eu disse. Timbres não são tão importantes assim. Eles não vão salvar o mundo, vão só o torna-lo um pouquinho mais agradável.













Um abraço





Ygor Morato é guitarrista da banda Scania e técnico em degustação de cerveja.


Meus trabalhos em:





A Era Fender
Por Gleisson Chaves

E aí Cataputas! Eu sou o Gleisson Chaves, sou guitarrista e produtor e, à partir de agora,estarei sempre aqui postando textos na coluna “Queima Válvula” aqui do blog. Nesta coluna, vou tratar de assuntos relacionados a equipos, principalmente vintage, e principalmente sobre guitarras e afins...vez ou outra poderemos citar coisas relacionadas a equipos mais recentes, contar umas historinhas, entrar nos mundos de outros instrumentos e tal...
Fui convidado pela piranha do Neska a fazer isso aqui. Achei interessante a idéia e fiquei dias pensando com o que começar. Então, decidi falar sobre as “eras” da Fender – mais exatamente sobre os amplificadores desta marca. Então vamos lá...Para quem não sabe, a Fender Electric Instruments & Co. foi criada por Léo Fender em 1946. De início, a Fender produzia apenas amplificadores – só alguns anos depois foram iniciadas a construção de guitarras, baixos, mas isso é outra história..Enfim, em 1947 foram introduzidos os 2 primeiros amps Fender: o Princeton e o Super. Em 1948 apareceram os primeiros amps com acabamento em Tweed (um tipo de tecido, geralmente de cor amarela) – assim começa a Era “Tweed” e o 1º deles foi o Champ. Em 1951 foi lançado o baixo Precision Bass e para ele foi criado o Bassman, em 1952 – no qual viria a ser bem mais popular entre os guitarristas. Em seguida vieram a 1ª versão do famoso Fender Twin, depois veio o Bandmaster, Tremolux (1º amp Fender com o efeito trêmolo embutido), Vibrolux (clássico usado por Stevie Ray Vaughan, por exemplo). Até 1957, os amps da Era Tweed possuíam não mais que 50w RMS de potência, mas em 1958 o Twin passou a ter 80w e não mais 45w. Em 1963 surgiu a “nova cara”, os “cara preta”, ou simplesmente, os “Blackface”. Os nomes permaneceram os mesmos (Twin, Bandmaster, Showman, etc), mas agora contavam com mais potência e mais features, como 2 canais, reverb, tremolo e vibrato embutidos, e por aí vai...
Em 1969, veio a era “Silverface” (cara prata)...os mesmos features anteriores, mas um pouco mais potentes...mas essa era acabou em 1981, com a volta dos “Blackface” – no qual permanece como padrão até os dias atuais...
É isso cataputas...em breve posto sobre outros assuntos...





Gleisson Chaves vem de uma família de músicos, mas só começou a estudar música aos 13 anos. Logo curtiu as possibilidades que a guitarra poderia oferecer em termos de timbres e sentimentos. Já fez parte de algumas bandas fazendo som autoral (BONI MORES, UMMAGHUMMA, Rafael Cury & The Booze Bros., etc.) e atualmente produz e toca em algumas das bandas mais conhecidas de Brasília - quando o assunto é tributo a grandes nomes do rock 'n' roll como The Doors (Backdoor Band), Janis Joplin (Quinta Essência), Led Zeppelin (Celebration Band), etc..será um cliente assíduo na espelunca a ser criada pelo Neskau.